Não era o homem pisando na Lua; era Neymar irrompendo o Camp Nou na
apresentação oficial do Barcelona. Mas, para a imprensa brasileira, que
nos últimos anos se dividiu em endeusar ou criticar severamente o
jogador, era necessário ir além. Criou a editoria “Apresentação de
Neymar”, em que cada detalhe ganhou uma comoção desmedida: a chegada ao
aeroporto, a roupa do jogador, as Neymarzetes espanholas, as caras e
bocas da namorada global, as imagens exclusivas do exame médico.
Os portais exibiram uma espécie de “tempo real” para cobrir o
insignificante. Neymar almoçando na concentração, funcionários do
estádio entregando copos de água aos torcedores, imagens incríveis do
placar eletrônico. Em alguns momentos, parecia que estávamos diante de
um conclave futebolístico. A cada minuto, uma atualização qualquer,
desprovida de qualquer relevância.
Em um programa de TV, um debate acalorado sobre o número da camisa
que usará o “astro brasileiro”. Só faltou consultarem um numerólogo
para engrandecer a discussão. Em outro, o descritivo completo da
primeira refeição de Neymar em Barcelona. Outro portal cobrava a
participação das fãs no Twitter, pedindo a elas que registrassem em
fotos a paixão pelo ídolo.
É possível notar ainda que a espetacularização não é exclusividade
nossa. Os próprios veículos espanhóis exploraram a chegada de Neymar
como o acontecimento do ano. Mas do lado de cá, a impressão é de que
estamos apresentando para a Europa nossa melhor mercadoria, o menino
dos gols de ouro, o jovem talento que precisou ultrapassar os limites
sul-americanos. A imprensa brasileira adotou a postura de uma mãe
orgulhosa, com lágrimas nos olhos, acompanhando os últimos passos do
filhote sob a sua tutela.
Neymar não é só o maior jogador brasileiro da atualidade, mas também
o de maior exposição e retorno publicitário. E a sua trajetória no
Brasil muitas vezes se assemelhou a um comercial sem fim, sempre em
busca do gol decisivo, do drible perfeito e do holofote mais bem
posicionado. Agora, em solo europeu, surge a dúvida inevitável: será só
mais um, ou o maior de todos? E aqui estaremos sedentos por
curiosidades que virarão notícia. O que come por lá? Com quem divide o
quarto na concentração? Como a namorada está se adaptando ao clima? Um
boletim periódico sobre o nada. Um nada absoluto capaz de promover a
paixão por algo que nem o torcedor sabe ao certo o que vem a ser.
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