segunda-feira, 6 de novembro de 2017

CAMPEONATO CARIOCA SERIE C - ACREDITE

Por: Dr. Julio - 06/11/2017 - 22:00
RIO
Jogadores do União de Marechal Hermes treinam em academia de praça pública no Rio
O futebol brasileiro está decadente em todos os aspectos. Os 7 a 1 para a Alemanha são sempre citados como exemplo de “fundo do poço” mas a imprensa em geral é superficial na apresentação das causas do nosso empobrecimento técnico e de público nos estádios. Os campeonatos europeus, Champions League em destaque, têm mais espaços na mídia brasileira que os nossos próprios clubes. Com isso, os dirigentes das federações e CBF continuam nadando de braçada, por falta de denúncias dos meios de comunicação, como esta reportagem de hoje na Folha de S. Paulo. O escândalo que ocorre na Série C do campeonato carioca é semelhante ao que ocorre na terceirona de Minas e de quase todos os estados. No Rio, com mais intensidade. Times que não comparecem aos jogos, que fazem “cai-cai” para que o jogo acabe logo e que desistem da disputa no meio da competição, gerando o descrédito geral que toma conta do esporte mais popular do Brasil.
Mas os dirigentes nem pensam em mudar este quadro já que as taxas são cobradas em todos os jogos e inscrições de jogadores, sustentando toda a farra, em todo o país. Cada jogo custa, no mínimo, R$ 6 mil reais para cada time entrar em campo, sem falar nas multas que são obrigados a pagar em função de qualquer descumprimento dos regulamentos esdrúxulos. A CBF finge de morta, porque a sua diretoria é eleita por essas federações. Quando cobrados, estes cartolas dizem que são obrigados a cumprir a legislação prevista no Estatuto do Torcedor, que prevê essas divisões de acesso. Pura conversa! Se houvesse interesse em mudar eles mobilizariam deputados e senadores a qualquer momento, muitos deles, inclusive, eleitos pelo futebol. Mas eles também têm interesse nesta situação, já que têm nessa turma um monte de financiadores e cabos eleitorais. Em 2018 certamente teremos uma chuva de candidatos país afora, oriundos de federações e clubes, quase todos imbuídos de manter o que aí está, porque os bolsos deles agradecem, além das mordomias, que não faltam de jeito nenhum.
Confira a reportagem da Folha:
* “Série C do Estadual do Rio vive à base de ‘gol fantasma’ e W.O.”
O campeonato dos gols fantasmas. Assim é chamada a Série C do Estadual do Rio. O torneio encerrará a primeira fase com mais de cem gols que nunca foram marcados.
Com clubes com estrutura amadora na competição, a Ferj (Federação de Futebol do Estado do Rio) teve de decretar 32 W.O. até agora. Nestes casos, o regulamento estabelece que o time que se ausentar do jogo perde por 3 a 0.
O torneio, que é profissional e equivale à quarta divisão, contabiliza algo ainda mais raro: já tem pelo menos quatro W.O. duplos, quando as duas equipes são consideradas perdedoras. A última rodada foi adiada para o dia 12 e pode ter mais oito W.O.
“Se eu tivesse amor por dinheiro, já teria deixado isso há muito tempo. O futebol é a minha paixão. Por isso, continuo pondo os garotos para jogar”, disse o aposentado Malaquias Silva de Jesus, 73, presidente do Tomazinho.
Com camisa parecida com a do Vasco, o clube fica em São João de Meriti, cidade de maior densidade demográfica do Brasil e uma das mais violentas do Estado do Rio.
Criado em 1930, o Tomazinho vive da ajuda de amigos do presidente. Para atuar em casa (o estádio Louzadão, em Mesquita), o time gasta aproximadamente R$ 6.000 por partida e não arrecada nada.
“Deixamos portões abertos aos moradores da comunidade, para dar uma força”, disse o dirigente, que se recusa a cobrar R$ 10 pelo ingresso, preço fixado pela federação.
“Apesar do sacrifício, o importante é que não levamos nenhum W.O. e estamos na briga por uma das vagas no quadrangular final do campeonato”, acrescentou.
Para prosseguir no torneio, a equipe precisa torcer para o Itaperuna tropeçar em um dos seus dois próximos compromissos. Na próxima rodada, o Tomazinho será beneficiado por mais um W.O.
O Riostrense foi punido pela federação e não vai poder mais disputar o torneio.
JOGADOR PAGA DO BOLSO
O amadorismo dá o tom na Série C. O União de Marechal Hermes não paga salário e ainda exige que os atletas paguem a taxa pela profissionalização –cerca de R$ 500.
“Temos esse sonho de viver do futebol. Por isso, decidi bancar a minha profissionalização. Quero agora chegar a um clube grande”, disse o lateral Dias, 23, que acorda às 5h da manhã, atravessa duas cidades para treinar num campo de várzea na Ilha do Governador, zona norte.
Os jogadores do Tomazinho também não receberam salário ao longo deste ano.
Morador de São Gonçalo, Dias gasta cerca de R$ 40 por dia de condução até o treino. Para tentar se sustentar, faz “bicos”. Trabalha de garçom e lavador de carros.
“A pressão em casa está grande. Sou todo dia cobrado para arrumar um trabalho de carteira assinada. Mas ainda vou dar alegrias aos meus pais”, completou o lateral.
Fundado em 1915, o União de Marechal Hermes tem poucas glórias na história centenária. O clube perdeu até sua sede. Nos treinos, jogadores contam apenas com pequeno vestiário ao lado do campo esburacado do Freixeiro, na Ilha, distante mais de 30 km do seu bairro de origem.
Depois do treino no gramado, os atletas malham em uma academia pública construída numa praça do bairro pelo governo do Estado.
“Somos mesmo um bando de loucos. Espero que, no futuro, algum desses atletas chegue a um clube grande e nos ajude”, disse Robério Tanajura, 59, gestor do time.
Na segunda-feira (30), o time foi suspenso pela federação. O clube vai ter que pagar cerca de R$ 10 mil de dívida com a Ferj para não ser punido. A equipe tem o patrocínio de apenas uma empresa, que lhe repassa R$ 2 mil por mês.
“Estamos correndo atrás, mas está difícil. Vamos ver o que acontece”, disse Tanajura, sem muita esperança.
OUTRO LADO
Organizadora da Série C, a Ferj (Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro) culpou os clubes pela série de “gols fantasmas” no torneio.
Em nota, a entidade afirmou que “em grande parte, os jogos não acontecem em função da desorganização e descumprimentos de normas de regulamento e legislação por parte dos clubes”.
A federação creditou o fracasso do torneio também à “crise econômica” do Rio.
“Mas o principal é a falta de planejamento e saber entender a sua real condição de participação na competição.”
A última rodada da primeira fase foi adiada em uma semana. Teria que ser realizada neste domingo (5), mas foi transferida para o dia 12.
A Ferj cobra de sete times pagamento de cerca de R$ 100 mil por não quitarem borderôs de mais de 30 partidas.
Segundo a entidade, a mudança na tabela foi feita “para que os clubes tenham tempo para acertar pendências e obrigações do campeonato, não ocasionando desequilíbrio técnico e principalmente estabelecendo justiça aos que cumprem com suas obrigações legais”.
Ao ser questionada sobre a decisão de clubes participantes do torneio de não pagarem salários aos atletas, a Ferj informou que não tem “gerência em relação a pagamento ou qualquer outra obrigação trabalhista”.
“Cabe ao atleta, através dele próprio ou seu sindicato, a denúncia ao TRT [Tribunal Regional do Trabalho] e informação à Ferj para repasse ao Tribunal de Justiça Desportiva”, completou.
Com o fiasco da competição, que teve 18 rodadas somente na primeira fase nesta temporada, a federação afirmou que deve reformular o torneio no próximo ano.
“O pensamento é adotar critérios de participação mais efetivos e uma competição mais compacta, com menos jogos”, disse a entidade.

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