quarta-feira, 9 de agosto de 2017

O CAOS DAS OLIMPÍADAS NO BRASIL

Por: Dr. Julio - 09 de Agosto de 2017 - 14:57
RIOZERO
Amigos e amigas, nestes dias em que a imprensa vem falando do primeiro aniversário da realização da primeira Olimpíada na América do Sul, a Rio2016, uma ótima reflexão. 
* “Bolsa Atleta: Querido diário pra mim ele deveria se chamar MEA CULPA.”
 Não me tenha como alguém contrário a ajuda financeira aos nossos heroicos atletas de elite. Essa verba do nosso governo, o Bolsa Atleta, é um dos incentivos concedidos aos que buscam ajuda no esporte? Sim, válido, merecido, útil, ok. Mas isso não é tudo. Essa atitude “eu dou dinheiro e eles se viram” me lembra aquela passagem do cara que pediu uma bacia d’água e lavou as mãos em público num julgamento.
A cada 4 anos temos os jogos olímpicos, ó! Descobri a América!
Mas a questão é mais profunda, ó querido diário.

Nós, brasileiros, povo que depois que aprende a ganhar não tolera outro resultado diferente do primeiro lugar e do mais absoluto protagonismo, vide o descaso com o qual tratamos Rubinho Barrichelo, Felipe Massa, ou o trato dado ao multicampeão Roberto Carlos depois da eliminação pra França na copa de 2006. Péra aí! E a primeira mulher medalhista olímpica em modalidade individual? Nem o extremismo das mais fanáticas feministas demonstra algo em relação a ela. Que não me furte o registro, mas Roberto Carlos, o lateral é respeitado e ovacionado em todo mundo, exceto aqui em seu próprio país. Deixemos de lado o episódio “Ajeita o Meião” aliás, isso dá nome de bloquinho de carnaval em BH. Agora exagerei né? Foi mal, tive que descontrair.
Voltemos ao bolsa atleta.
Que conste nos autos querido diário: pra mim, todo atleta olímpico brasileiro é ouro. Ufanismo à parte, digo que eles são ouro porque o resultado do seu esforço se compara ao mais artesanal dos garimpos, aquele de bateia. O desafio é tão grande, que filtra o esforço assim. Procure um lugar para treinar. Saiba que ele é longe do ideal, longe da sua casa, longe do seu dia a dia, que o esporte que você pratica está longe dos olhos do público durante 3 anos e 11 meses e os dias de prova da sua competição. Ou seja, só é visto depois de muito trabalho, quando é visto.
Ô diário! Cê acredita que volta e meia uma atleta comete um erro numa regra nova da modalidade e é tratada com ofensas raciais num ciclo olímpico? Mas aí, vem o próximo e ela ganha o ouro! Mais uma marca derrubada! O esporte é mágico. Emoji de medalhinha dourada!
RIO16UM
Falando em distâncias. Qual a lógica que fez com que os nossos centros de excelência desportivas ficassem tão distantes uns dos outros? Porque tivemos 11 estádios na copa do mundo ao invés de 6 ou 7? Será que numa estrutura pensada para os atletas olímpicos, os gastos não poderiam ser otimizados? O intercâmbio entre diferentes modalidades não seria recompensado? E a formação de novos profissionais para trabalharem essa turma, seria uma boa pra eles? E aqueles aparelhos moderníssimos que medem o desempenho dos atletas, vamos ter que equipar cada um dos centros com eles, ou pagar as passagens e hotel pra turma parar de treinar e fazer os testes? A gente gasta dinheiro, mas poderia otimizar isso aí?
Aí alguém diz: “ao menos temos centros de excelência”. Ok, verdade, mas como vamos ter excelência se não temos um sistema de base?
Se você não viu, eu conto. Um dos nossos medalhistas olímpicos treinou durante boa parte do ciclo na garagem de casa, falo de Felipe Wu. Falando em preparação, querido diário, há até casos de atletas que buscam apoio e treinamento fora do país, porque às vezes a confederação daqui mais atrapalha que ajuda. Essa aliás, a tal da federação continua recebendo verbas, e em muitos casos o presidente é daquela mesma família ou panela. No Brasil? Sério? Sério… De vera.
RIO16DOIS
Sei que isso aqui não é uma planilha de excel querido diário, mas vamos aos números. O nosso investimento em esportes pros jogos do Rio foi de R$ 3,68 bilhões. Seguindo esse cálculo, cada medalha nossa custou R$ 194 milhões, e o coitado do Felipe Wu treinou até 2012 na garagem de casa, não conseguia se preparar para um dos tipos de tiro da competição, e às vezes não tinha dinheiro para comprar a munição específica. Mais do que eu, o esporte às vezes é irônico: o último a ser lembrado foi o primeiro medalhista do Brasil nos jogos do Rio 2016. Tenta fazer a conta aí diário, aonde enfiaram os R$194 milhões da medalha de prata do Felipe Wu?
Vejamos o caso do Reino Unido, 2º colocado no quadro de medalhas dos jogos olímpicos do Rio. A delegação da rainha optou por concentrar em Belo Horizonte grande parte das modalidades durante a aclimatação para os jogos de 2014. Corte pra linha do tempo: Nos jogos de Atlanta em 1996 o Reino Unido ficou em 36o no quadro de medalhas, porém com apoio da verba de loteria conseguiu chegar ao 2o lugar no Rio 2016. Péra aí diário! Fala sério?! Lá só com a loteria eles fizeram isso. E nós aqui que temos banco, entidade aeroportuária, correio, e tantas outras estatais bancando? Cada medalha deles custou aproximadamente £5.5m. O que convertido em reais seria equivalente a R$24.200.000,00 só 8 vezes menor que o nosso gasto. Só pra constar, na terra da rainha os britânicos direcionam a maioria da verba a esportes com potencial de pódio nas próximas 2 edições dos jogos.
Aliás, por lá os esportes olímpicos receberam mais verba depois dos jogos em Londres 2012… Não diário! Não! Né possível, nós temos todos esses patrocinadores, população maior, menos locais apropriados pra prática desportiva e por aqui o investimento diminui? Como eu explico isso pra você… Se agora, um ano depois dos jogos olímpicos a coisa está assim, o que será de nós no futuro?
Assim como o asfalto das nossas estradas, o nosso sistema desportivo será uma eterna colcha de retalhos, remendos, reparos, que depende de trabalhos isolados para formar novos atletas, ou teremos um sistema sólido, fluido, uniforme e sem puxadinhos que viram soluções definitivas?
Aí eu pergunto pra você governo federal, a criançada nesse país vai pra um lugar chamado escola, durante boa parte do dia, porque no restante da jornada se vai pra rua. E se, a criançada tivesse na ESCOLA a prática desportiva. Além de abrir uma oportunidade pra se garimpar uma joia rara, o esporte na escola seria uma das maneiras de se buscar o respeito a instituição. (contei aqui: a palavra ESCOLA aparece três vezes no mesmo parágrafo, matemática 10)
Se o aluno dependesse daquela instituição para competir? Fora o senso de pertencimento a uma comunidade, o reconhecimento dos colegas, o fomento de público para as modalidades na qual aquela escola viesse a se destacar. Assim se formam atletas, cidadãos, interesse por esporte, respeito, público.
A bolsa atleta é uma parte? Respondo, sim. Ok. Mas, na minha opinião, não há uma visão do todo. Entra ciclo olímpico, sai ciclo olímpico, entra patrocínio sai patrocínio, entra lei de incentivo sai lei de incentivo…
Essa postura de “dou o dinheiro, vocês que se resolvam” muito me lembra o caso de muitos pais que julgam que ao pagar a escola já incluem no boleto a cota dos modos que se aprendem em casa. Não é bem assim, em casa se aprende a dizer: bom dia, obrigado, por favor. Na escola se aprende matemática, português, geografia, etc. E no esporte se aprende a competir, ganhar perder na formação do cidadão e do atleta. E aí governo? Cadê o esporte na escola? Tá vendo tudo e fica aí parado?
“Com muita raça, fiz tudo aqui sozinho
Nem um pé de passarinho veio a terra semear
Agora veja, compadre a safadeza
Começou a malvadeza, todo bicho vem prá cá”

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