terça-feira, 25 de dezembro de 2012

ENTREVISTA COM PRESIDENTE DA CBF JOSÉ MARIA MARIN

Por: dr julio - 25-Dez-12 - 10:34

   Há figuras que não valem a pena gastar tempo lendo ou ouvindo suas falas. Mas, dependendo de quem entrevista, é diferente, pois o assunto pode render alguma coisa.


   É o caso do presidente da CBF, que o Globo dedicou uma página. Como os entrevistadores são dois dos melhores jornalistas do país (Jorge Luiz Rodrigues e Tadeu Aguiar), li, e transcrevo para os senhores do blog.

   * “Marin: ‘Nosso país esperava um motivador como Felipão’

    Presidente da CBF revela ter mantido conversa preliminar com o novo técnico antes da demissão de Mano

Jorge Luiz Rodrigues
Tadeu de Aguiar

MARIN

Veemente, José Maria Marin chama de mentiroso quem afirma que existe comando duplo na CBF. Em entrevista ao O GLOBO, presidente da CBF revela que a seleção brasileira quer jogar com a França no Mineirão e que proibirá contatos de jogadores com empresários nos hotéis do time brasileiro.

O GLOBO: Por que o senhor mudou o técnico da seleção brasileira?

     Esperei o Campeonato Brasileiro estar decidido e a seleção ter jogado sua última partida no ano. Não foi a primeira, nem a última troca de treinador. É uma coisa normal a avaliação do trabalho. Acompanho de perto. Estive nas Olimpíadas, em amistosos. Senti, ouvi, amadureci. Nós perdemos a Copa América. Perdemos as Olimpíadas. Ganhamos a taça (do Superclássico), mas perdemos o jogo.

Quando o senhor percebeu que era o momento de mudar?

   Foi após uma avaliação muito, muito demorada. Consultamos detalhes das partidas. Também sentimos a manifestação do torcedor. E, por último, que é muito importante, o termômetro, que é a imprensa. Havia um anseio pela mudança. Agora, uma insignificante parcela acha que é bom aquilo que, no passado, era ruim.

Mas o time havia melhorado, a seleção estava jogando com a bola no chão, tocando rápido, no estilo brasileiro, sem chutões e chuveirinho…

     O Felipão, no sistema de disputa da Copa do Mundo, é o grande especialista. Pesa também a favor do Felipão a experiência comprovada através de título conquistado. Com um currículo internacional comprovado quando esteve também à frente da seleção de Portugal. Ele também é um grande motivador. E o nosso país esperava um motivador como o Felipão.

Quando o senhor anunciou a decisão de demitir Mano Menezes faltavam oito dias para o sorteio da Copa das Confederações. O senhor anunciaria o substituto só em janeiro. Mas precisava do técnico para a coletiva da Copa das Confederações. Foi por isso que o senhor antecipou a escolha do Felipão?

     Foram vários os motivos. Quando o presidente (da Fifa) Joseph Blatter e o secretário-geral Jérôme Valcke tomaram conhecimento, antecipadamente, de que eu tinha escolhido a dupla Felipão/Parreira, eles acharam que seria um desperdício não apresentá-los no evento da Fifa. Teria repercussão mundial. Seria uma agenda positiva não só para o Brasil, mas para a Fifa. Outro detalhe que eu ponderei: o Corinthians vai ter um grande compromisso (o Mundial de Clubes) e eu não queria que, amanhã ou depois, o Tite pudesse sair do foco de seu objetivo principal, que é ganhar o título. É verdade o que eu estou falando, pode acreditar.

Mas o Felipão jurou para a imprensa que jamais fora procurado por ninguém da CBF. Pelo que o senhor disse agora, então, quando havia tomado a decisão de demitir o Mano, o senhor já tinha o nome do substituto…

    Eu já havia falado por telefone com o Felipão, quando ele estava com a mãe doente. Ele veio correndo para cá. Havia uma conversa preliminar. Depois da demissão é que acertamos definitivamente. É isso mesmo. Foi uma conversa de cinco minutos. Ele colocou, em primeiro lugar, a satisfação de voltar a dirigir a seleção.

Felipão fez alguma exigência?

Nenhuma! Nenhuma exigência.

Nem de salário?

    Nem de salário! O contrato nem foi feito. E nem será contrato. Será com carteira de trabalho. Felipão só pediu para trazer um nome: Flávio Murtosa, seu auxiliar.

O senhor colocou para o novo treinador a mesma exigência feita ao Mano, a de saber os nomes convocados 48 horas antes da divulgação?

     É a coisa mais natural possível. Felipão me falou que me dará os nomes até antes disso…

O senhor imporia algum nome?

   Estive com Fred, Ronaldinho, Neymar. Disse a eles que eu assumo total e exclusiva responsabilidade, veja bem o termo, pelas vindas do Felipão e do Parreira. Entretanto, José Maria Marin não convoca nenhum jogador, muito menos escala qualquer jogador. Da mesma forma que José Maria Marin não irá permitir, de maneira alguma, a presença de empresários em treinamentos, em hotéis em que a seleção brasileira esteja hospedada. Respeito a liberdade democrática de circular, mas contato com os jogadores em hotéis, quando convocados, está terminantemente proibido.

Na outra gestão havia essa liberdade para os empresários?

    A outra gestão eu respeito. Esta é a do José Maria Marin.

O senhor consultou o ex-presidente Ricardo Teixeira antes de contratar Felipão e Parreira. Procede?

    Quem fez esta afirmação, preciso ser duro, é mentiroso. Mentiroso! Não consultei ninguém. E dentro do futebol também não consultei ninguém. Quem afirmar, mesmo de leve, que consultei alguém, dentro ou fora do futebol, é mentiroso! Torno a repetir: mentiroso!

Outra coisa que se comenta é que o comando da CBF é duplo…

    (interrompendo) A responsabilidade é do José Maria Marin em todos os sentidos. O primeiro a respeitar a hierarquia é o vice-presidente Marco Polo del Nero. Ele trabalha duro na questão administrativa por sua experiência de muitos anos à frente da Federação Paulista. É bom que tenhamos trabalhando conosco uma pessoa dessa capacidade. É uma intriga dizer que o Marco Polo queira se intrometer nas questões que competem exclusivamente à presidência da CBF. Jamais irão conseguir fazer qualquer tipo de intriga entre nós.

Mas a eleição da CBF foi antecipada para abril de 2014… O senhor pretende tentar a reeleição?

     Mas o final de mandato atual continua em abril de 2015 (um ano depois da eleição). O primeiro pensamento é terminar bem este mandato, que é a minha missão. O segundo é que eu não pretendo mexer em nada nos estatutos da CBF visando a qualquer alteração que possa me beneficiar. Vou cumprir a minha missão nos campos futebolístico e administrativo. Só poderei mexer no estatuto, se for necessário, para transformar o cargo de diretor de seleções, que eu extingui, em diretor de relações internacionais. Posso garantir que nenhuma mudança será efetuada. Quando eu digo que quero terminar minha missão, acho que, para bons entendedores, pouca palavra basta.

Seu candidato seria Del Nero?

   É muito cedo para falar em eleição. Estou preocupado com duas missões: a Copa das Confederações e o grande objetivo que é a Copa do Mundo.

A CBF pediu e a Fifa negou, a princípio, autorização para jogar um amistoso com a Inglaterra, no dia 2 de junho de 2013, no Maracanã…

    (interrompendo) Deixa eu revelar uma coisa. São dois amistosos: dia 2, e também dia 9 de junho, este último, no Mineirão, contra a França. Estamos dependendo do aval da Fifa porque nessas datas os dois estádios já estarão entregues a ela para a Copa das Confederações (começará a 15 de junho). Estamos evoluindo, não é fácil, mas estamos conversando. Se não houver jeito, vamos procurar uma alternativa. Envolve não só o estádio, mas também patrocinador. Os da Fifa não são os da CBF. É uma coisa complexa.

O Campeonato Brasileiro completou dez edições em pontos corridos, mas já há cartolas pregando mudança de fórmula e até o inchaço do campeonato. Qual é a sua posição?

    Não existe. Fazer calendário comparando Brasil à Europa não dá. O Brasil é um país continental. O futebol não é só dos grandes centros. Veja o Paysandu, com sua força. Quando fiz minha estreia numa reunião da Fifa, eles quiseram eliminar Recife da Copa das Confederações. Eu me levantei e disse: “Os senhores não sabem a grandeza do estado de Pernambuco, sua economia, sua história, a tradição”.

Existe possibilidade de o calendário se adequar ao europeu?

   É um estudo complexo. Temos a Série A. A Série B está super valorizada. A Série C está sendo vendida. Ninguém queria disputar a D. Agora, estamos gastando mais de R$ 20 milhões para subsidiar a D. Hoje, os clubes brigam para jogar, buscando até aspecto jurídico. Para trajeto com mais de 750km de distância, damos passagem de avião. Damos comida e hospedagem para delegação de 25 pessoas e mais sete bolas para cada time. Para menos de 750km, vão de ônibus leito. José Maria Marin não é só Série A.

Mas pode mudar ou não?

    A CBF está de portas abertas para ouvir sugestões. Vou encaminhar ao Departamento Técnico. O que eu não quero é criar falsa ilusão. Amanhã, sai que o José Maria Marin diz que vai mudar, e isso não é bom.

Como senhor vê o futebol jogado no Brasil?

     Não é só o futebol do Neymar. É um grande celeiro, a renovação se faz sempre. Acredito também na qualidade do treinador brasileiro. Temos Abel, Luxemburgo, Muricy Ramalho e tantos outros. Felipão é o perfil adequado para o momento, era o anseio do torcedor, pela experiência, pelo sistema de disputa. Até o Ricardo Teixeira gostou… Ele me cumprimentou pela escolha, eu confesso a vocês.

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